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Um Céu e Nada Mais
Um Céu e Nada Mais


 
Um céu e nada mais — que só um temos, 
como neste sistema: só um sol. 
Mas luzes a fingir, dependuradas 
em abóbada azul — como de tecto. 
E o seu número tal, que deslumbrados 
neram os teus olhos, se tas mostrasse, 
amor, tão de ribalta azul, como de 
circo, e dança então comigo no 
trapézio, poema em alto risco, 
e um levíssimo toque de mistério. 
Pega nas lantejoulas a fingir 
de sóis mal descobertos e lança 
agora a âncora maior sobre o meu 
coração. Que não te assuste o som 
desse trovão que ainda agora ouviste, 
era de deus a sua voz, ou mito, 
era de um anjo por demais caído. 
Mas, de verdade: natural fenómeno 
a invadir-te as veias e o cérebro, 
tão frágil como álcool, tão de 
potente e liso como álcool 
implodindo do céu e das estrelas, 
imensas a fingir e penduradas 
sobre abóbada azul. Se te mostrasse, 
amor, a cor do pesadelo que por 
aqui passou agora mesmo, um céu 
e nada mais — que nada temos, 
que não seja esta angústia de 
mortais (e a maldição da rima, 
já agora, a invadir poema em alto 
risco), e a dança no trapézio 
proibido, sem rede, deus, ou lei, 
nem música de dança, nem sequer 
inocência de criança, amor, 
nem inocência. Um céu e nada mais. 

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