Um céu e nada mais — que só um temos, como neste sistema: só um sol. Mas luzes a fingir, dependuradas em abóbada azul — como de tecto. E o seu número tal, que deslumbrados neram os teus olhos, se tas mostrasse, amor, tão de ribalta azul, como de circo, e dança então comigo no trapézio, poema em alto risco, e um levíssimo toque de mistério. Pega nas lantejoulas a fingir de sóis mal descobertos e lança agora a âncora maior sobre o meu coração. Que não te assuste o som desse trovão que ainda agora ouviste, era de deus a sua voz, ou mito, era de um anjo por demais caído. Mas, de verdade: natural fenómeno a invadir-te as veias e o cérebro, tão frágil como álcool, tão de potente e liso como álcool implodindo do céu e das estrelas, imensas a fingir e penduradas sobre abóbada azul. Se te mostrasse, amor, a cor do pesadelo que por aqui passou agora mesmo, um céu e nada mais — que nada temos, que não seja esta angústia de mortais (e a maldição da rima, já agora, a invadir poema em alto risco), e a dança no trapézio proibido, sem rede, deus, ou lei, nem música de dança, nem sequer inocência de criança, amor, nem inocência. Um céu e nada mais.