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Sonho
Sonho

Numa casa de vidro te sonhei. 

Numa casa de vidro me esperavas. 
Num poço ou num cristal me debrucei. 
Só no teu rosto a morte me alcançava. 

De quem a morte, por terror de mim? 
De quem o infinito que faltava? 
Numa casa de vidro vi meu fim. 
Numa casa de vidro me esperavas. 

Numa casa de vidro as persianas 
desciam lentamente e em seu lugar 
a noite abria o escuro das entranhas 
e o teu rosto morria devagar. 

Numa casa de vidro te sonhei. 
Numa casa de vidro me esperavas. 
Fiz do teu corpo sonho e não olhei 
nas palavras a morte que guardavas. 

Descemos devagar as persianas, 
deixámos que o amor nos corroesse 
o íntimo da casa e as estranhas 
cerimónias do dia que adoece. 

Numa casa de vidro. Num espelho. 
Na memória, por vezes amargura, 
por vezes riso falso de tão velho, 
cantar da sombra sobre a selva escura. 

Numa casa de vidro te sonhei. 
No vazio dessa casa me esperavas. 

 


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